Textos de Vanessa Carvalho

"A sua consciência tem um peso maior do que a opinião de qualquer pessoa."




Adoção 

Há quem diga que é um ato de amor e desprendimento. 

Um ato de compaixão e de completa misericórdia.

Tem também, aqueles que acreditam ser um processo natural, simplista e que qualquer um pode fazer.

Já os mais pessimistas, apostam em uma realidade cruel, onde os problemas vão ser para toda a vida.

Alegam se está tudo bem, porque buscar problemas.

Na verdade, é um pouco de cada.

Toda a convivência é feita de contrários.

Você vai passar seus valores, a sua maneira de ser, o modo como enfrenta a vida.

Suas ações vão ser copiadas, e os exemplos que transmite vão marcar e muito a sua relação com a pessoa que foi escolhida para viver  junto de você.

A sua missão é educar, impor limites, abrir e mostrar caminhos.

Falar de amor, praticar o amor, ensinar a amar.

Você vai estar diante de uma pessoa que sofreu uma rejeição, e nem todos tem a mesma reação.

Cada um vai ter a sua interpretação, cabe a você direcioná-la nesse caminho, na trajetória de vida, que ela vai ter pela frente.

Tem pessoas que são rejeitadas pelos pais biológicos dentro do convívio familiar e conseguem serem gratas.

Outras são amadas e nem por isso felizes, nem por isso são fontes de inspiração.

É relevante demais ter uma idéia pronta e inflexível sobre a adoção.

Ninguém está completo e não vai estar, enquanto viver.

Toda convivência é inusitada.

Ninguém vem com certificado de garantia e com comportamento delimitado.

Cada ser humano é talhado com as ferramentas que lhe foram apresentadas.

As instruções são fornecidas, as cópias apresentadas, as opiniões e conselhos ditados.

Agora, o que vai sair, vai depender do tipo de trabalho que mais se identifica, vai sair aquilo que sua personalidade e caráter permitir.  

Talvez, um dia possa olhar para trás, e se sentir orgulhosa por ter proporcionado a um ser humano uma vida rica.

Rica de sabedoria e gratidão.

Talvez, o que vai ver, não vai ser compatível com aquilo que fez e desejou.

Quem sabe, a pessoa que foi adotada, optou por ser boa, má, triste, alegre.

Quem sabe se tornou uma psicopata, ou uma consultora da paz.

Pode ser que virou doutor, empregada,  patrão.  

Pode ter se tornado qualquer coisa.

Os valores você passou, o aprendizado, filtrado por ela.

Diante disso, quem pode dizer que vai dar certo.

A alternativa é viver.

Não existe receita, nem tópicos a seguir.

É passar pela experiência com critério e estar ciente de que qualquer pessoa, adotada ou não, pode agir de modo intransigente.

O imprescindível é doar os princípios, e que esses, sejam os mais coerentes possíveis.

Que sejam dignos, que sejam recheados de bondade, honestidade, respeito.

Se vai dar certo, só o tempo dirá.

Se deu errado, que pena.

Se foi um sucesso, a pessoa adotada soube aproveitar a oportunidade.

Soube assimilar todo o aprendizado, conseguiu substituir os traumas por gratidão.

Conseguiu trocar o sentimento de dó por si mesmo, por discernimento.  

E você?

Bem, você fez a sua parte.

Investiu, cuidou, dedicou.

Que cada um continue a sua jornada.

Não espere nada, simplesmente siga sua vida.

E o outro?

Que continue a vida também.

Que continue a abrir espaços, conquistar territórios, avançar adiante, como todos que se encontram nesse mundo.

A idade adulta chega para todos.

Nesse instante algumas portas vão fechar, outras janelas vão abrir.

O importante é que, se o sentimento de frustação se apoderar de você, jogue ele fora.

Se aprende muito com as experiências.

Se o sentimento de glória se apoderar, fique com ele.

Que cada ser cumpra a sua missão e faça dela uma sacralidade.

Os caminhos são muitos, as opções de cada um.

Pode ser que no seu jardim nasça flores perfumadas de bondade, pode ser que não.

As suas flores podem exalar harmonia e cumplicidade.

Mas, podem também estar com tanto espinhos, que chegar perto se torna complicado demais.

Pode ser que os espinhos  te impeça de reconhecer, a flor que ali reside.