É o silêncio gritando dentro de cada um, tentando se localizar, no meio de uma multidão.
É a escuridão tateando cautelosamente, em busca de alguém que lhe apresente a luz.
É um processo inerente a todos, que nasce só, e morre só.
É dor profunda, buraco vazio e triste, que faz parte das condições de cada um.
É inevitável fugir dela, e é mais uma das mazelas a ser trabalhada e administrada.
A solidão não é ditada por estar só.
Ela é o sentir-se só.
Você pode estar rodeado de amigos, rodeado de pessoas conhecidas e desconhecidas, e mesmo assim, se sentir desconectado.
Tudo pode estar acontecendo ao seu redor.
Pode ser que você tenha uma participação ativa nas atividades e seja bem dinâmico no que faz.
Quem olha e quem te vê, não imagina que ai está um coração desamparado, um coração que sangra.
Uma pessoa desprotegida e perdida em seu próprio mundo.
Enfrentando dragões e monstros.
Lutando com toda coragem para se fazer literalmente presente, literalmente viva.
A solidão é o desencontro, é sentir estranho, é estar longe da paz.
É um sentimento obscuro, onde o silêncio é confuso.
Ela dói, machuca e é bem diferente de quem está só.
Tem pessoas que vivem isoladas e se sentem completamente acompanhadas.
Elas se bastam e sozinhas vivem felizes.
Seu mundo interior é rico, repleto de sonhos, ilusões.
Seus castelos são construídos e demolidos a medida que os fatos vão ocorrendo.
A própria companhia agrada, é tranqüila.
É na solidão que questionamentos resplandecem, e nesse processo, vai aflorando uma pessoa mais interessante, com mais bagagem.
Vai saindo poesia, música, livros...
É sofrido enfrentar os mistérios de ser gente, mas a melodia compensa, os versos e prosas encantam e os livros, bem, os livros fazem a vida mais completa.
Da solidão para o encontro consigo mesmo, depende de cada ser humano.
Depende dos métodos utilizados, da disposição de ir em busca.
É árido e trabalhoso como quase tudo.
É sombrio imaginar, que mesmo diante dos abraços apertados, rostos colados, cada um é singular.
Que mesmo diante da total intimidade de um casal, cada ser é indivudual.
Os corpos se colam, o calor se propaga, a respiração se funde, mas os pensamentos são como cartola de mágico e o que está ali, só o comandante sabe.
O contato físico é essencial, e por mais intenso que seja, ainda não é suficiente para adentrar a alma.
Existem limites, barreiras que a todo momento fala, você é único.
Ser único é ter consciência do seu potencial, da sua capacidade de criar e recriar.
Com o passar dos anos, a solidão vai dando lugar para o autoconhecimento.
O véu vai sendo retirado, a escuridão vai sendo iluminada e o vazio vai sendo preenchido com histórias reais e imaginárias, com contos e crônicas, fábulas e fantasias.
O estar só já é procurado e desejado, e através dele, a mente baila como uma brisa suave.
A serenidade permite ouvir os cantos que exalam da natureza e as luzes internas brilham, como as cores de um arco íris.
A solidão vai saindo de fininho, as vezes retorna, para dar o ar da graça.
Às vezes dá uma sumida e deixa em seu lugar, o gosto leve e doce de estar só.
Ser único é enfrentar a solidão, é aprender e reaprender a todo instante.
É se conhecer melhor, se tornar melhor, e a partir daí se transbordar em vida.
O contato com o eu interno favorece as relações, proporciona uma convivência sadia e próspera.
A solidão é um intercâmbio de buscas, de aventuras, medidas e desmedidas.
De ensaios e novelas, onde o teatro da vida, expõe aquilo que foi explorado e contemplado.