Textos de Vanessa Carvalho

"A sua consciência tem um peso maior do que a opinião de qualquer pessoa."




Solidão

É o silêncio gritando dentro de cada um, tentando se localizar, no meio de uma multidão.

É a escuridão tateando cautelosamente, em busca de alguém que lhe apresente a luz.

É um processo inerente a todos, que nasce só, e morre só.

É dor profunda, buraco vazio e triste, que faz parte das condições de cada um.

É inevitável fugir dela, e é mais uma das mazelas a ser trabalhada e administrada.

A solidão não é ditada por estar só.

Ela é o sentir-se só.

Você pode estar rodeado de amigos, rodeado de pessoas conhecidas e desconhecidas, e mesmo assim, se sentir desconectado.

Tudo pode estar acontecendo ao seu redor.

Pode ser que você tenha uma participação ativa nas atividades e seja bem dinâmico no que faz.

Quem olha e quem te vê, não imagina que ai está um coração desamparado, um coração que sangra.

Uma pessoa desprotegida e perdida em seu próprio mundo.

Enfrentando dragões e monstros.

Lutando com toda coragem para se fazer literalmente presente, literalmente viva.

A solidão é o desencontro, é sentir estranho, é estar longe da paz.

É um sentimento obscuro, onde o silêncio é confuso.

Ela dói, machuca e é bem diferente de quem está só.

Tem pessoas que vivem isoladas e se sentem completamente acompanhadas.

Elas se bastam e sozinhas vivem felizes.

Seu mundo interior é rico, repleto de sonhos, ilusões.

Seus castelos são construídos e demolidos a medida que os fatos vão ocorrendo.

A própria companhia agrada, é tranqüila.

É na solidão que questionamentos resplandecem, e nesse processo, vai aflorando uma pessoa mais interessante, com mais bagagem.

Vai saindo poesia, música, livros...

É sofrido enfrentar os mistérios de ser gente, mas a melodia compensa, os versos e prosas encantam e os livros, bem, os livros fazem a vida mais completa.

Da solidão para o encontro consigo mesmo, depende de cada ser humano.

Depende dos métodos utilizados, da disposição de ir em busca.

É árido e trabalhoso como quase tudo.

É sombrio imaginar, que mesmo diante dos abraços apertados, rostos colados, cada um é singular.

Que mesmo diante da total intimidade de um casal, cada ser é indivudual.

Os corpos se colam, o calor se propaga, a respiração se funde, mas os pensamentos são como cartola de mágico e o que está ali, só o comandante sabe.

O contato físico é essencial, e por mais intenso que seja, ainda não é suficiente para adentrar a alma.

Existem limites, barreiras que a todo momento fala, você é único.

Ser único é ter consciência do seu potencial, da sua capacidade de criar e recriar.

Com o passar dos anos, a solidão vai dando lugar para o autoconhecimento.

O véu vai sendo retirado, a escuridão vai sendo iluminada e o vazio vai sendo preenchido com histórias reais e imaginárias, com contos e crônicas, fábulas e fantasias.

O estar só já é procurado e desejado, e através dele, a mente baila como uma brisa suave.

A serenidade permite ouvir os cantos que exalam da natureza e as luzes internas brilham, como as cores de um arco íris.

A solidão vai saindo de fininho, as vezes retorna, para dar o ar da graça.

Às vezes dá uma sumida e deixa em seu lugar, o gosto leve e doce de estar só.

Ser único é enfrentar a solidão, é aprender e reaprender a todo instante.

É se conhecer melhor, se tornar melhor, e a partir daí se transbordar em vida.

O contato com o eu interno favorece as relações, proporciona uma convivência sadia e próspera.  

A solidão é um intercâmbio de buscas, de aventuras, medidas e desmedidas. 

De ensaios e novelas, onde o teatro da vida, expõe aquilo que foi explorado e contemplado.